Orçamento mostra que custo de obras da Rio-2016 dobrou desde candidatura

Vinicius Konchinski*
Do UOL, no Rio de Janeiro

A APO (Autoridade Pública Olímpica) informou na terça-feira que ainda desconhece o custo de mais da metade das obras que precisam ser concluídas para a realização da Olimpíada de 2016. Apesar disso, uma simples comparação entre os valores de projetos olímpicos já orçados e a estimativa de custo desses mesmos projetos informadas no dossiê de candidatura do Rio a sede dos Jogos de 2016 indica que o evento custará bem mais do que o esperado. De acordo com levantamento feito pelo UOL Esporte, mais do que o dobro, inclusive.

O levantamento listou o custo de algumas obras para a Rio-2016 já incluídas na Matriz de Responsabilidade Olímpica, documento que enumera os projetos públicos essenciais para os Jogos Olímpicos. Comparou o custo de cada uma dessas obras com o orçamento estimado na candidatura do Rio apresentada ao COI (Comitê Olímpico Internacional) em 2008. Verificou que, na média, as obras ficaram 103% mais caras de lá pra cá. No mesmo período, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) variou 32%.

Vale ressaltar que a comparação não é exata já que as estimativas dos custos incluídas no dossiê de candidatura do Rio não levavam em conta todas as exigências feitas pelo COI para os Jogos de 2016, nem gastos com a manutenção de centros esportivos necessária após o final das construções. Essas exigências e a manutenção, entretanto, pressionam o gasto governamental com a Olimpíada do Rio. Portanto, foram levados em consideração pelo UOL. A APO não divulgou um estudo sobre a evolução do custo da Rio-2016.

Só o custo da construção do Centro de Esportes Aquáticos mais que dobrou desde a candidatura. De acordo com a Matriz Olímpica, o conjunto temporário de piscinas da Rio-2016 (será desmontado após os Jogos) demandará investimentos públicos de R$ 226 milhões. Isso é 108% a mais do que os R$ 109 milhões previstos no dossiê de candidatura. Segundo o Ministério do Esporte, responsável por custear a estrutura, que nem começou a ser montada, o aumento aconteceu, entre outras coisas, porque foi incluída no contrato da obra a remontagem de piscinas que serão usadas na Olimpíada.

Outro aumento significativo foi verificado no custo da reforma do Sambódromo do Rio de Janeiro, custeada com recursos municipais e privados. No dossiê de candidatura, foi informado que o local receberia investimentos de quase R$ 27 milhões para poder receber as competições de tiro com arco e servir para a chegada maratona olímpica. As adequações já foram concluídas. Contudo, custaram R$ 65 milhões, ou seja, 142% a mais (veja abaixo outras comparações de custo abaixo).

CONFIRA UMA PARCIAL DA EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DA OLIMPÍADA

Obra/ItemCusto em 2008Custo em 2014Variação*Responsabilidade
Centro de TênisR$ 125,6 milhõesR$ 175,4 milhões**40%Governo federal/municipal
VelódromoR$ 79,4 milhõesR$ 143,1 milhões**80%Governo federal/municipal
Hall Olímpico 4 - HandebolNão especificadoR$ 146,8 milhões**-Governo federal/municipal
Centro de Esportes AquáticosR$ 109 milhõesR$ 226,5 milhões**108%Governo federal/municipal
Parque OlímpicoNão especificadoR$ 1,6 bilhão-Governo municipal/privado
Vila dos AtletasR$ 854 milhõesR$ 2,9 bilhões241%Privado
Campo de GolfeNão incluídoR$ 60 milhões-Governo municipal/privado
Parque dos AtletasNão especificadoR$ 40,3 milhões-Governo Municipal
Reforma do Engenhão, com entornoR$ 82,5 milhõesR$ 118,2 milhões43%Governo Municipal
Reforma do SambódromoR$ 26,9 milhõesR$ 65 milhões142%Governo Municipal/privado
Orçamento Comitê Rio-2016R$ 4,2 bilhõesR$ 7 bilhões67%Privado
  Variação média103% 
  • *No período, a inflação pelo IPCA acumulada foi de 32%
  • **Valor inclui manutenção temporária do equipamento e desmontagem, caso seja temporário

Justificativas

Para o presidente da APO, general Fernando Azevedo e Silva, o aumento do custo das obras é justificável. Em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte (assista trechos acima) logo após a apresentação da Matriz de Responsabilidade Olímpica, no Rio de Janeiro, ele ratificou as mudanças em exigências do COI e destacou que o dossiê de candidatura era só “um projeto para o Rio vencer a disputa [com outras cidades candidatas à sede da Olimpíada]”.

“O dossiê de candidatura é um trilho traçado. Foi feito com base em outras Olimpíadas realizadas no mundo: China, em 2008, Grécia, em 2004, e por aí vai. Mas as coisas mudaram”, explicou ele. “As exigências do COI hoje são outras e o custo que nós incluímos na matriz também é mais real.”

O general, que assumiu a Autoridade Olímpica no final do ano passado, disse que ainda não tem como precisar quanto custará toda a Olimpíada do Rio. Ressaltou que obras ainda estão sendo licitadas e, por isso, não é possível dizer quanto custarão. Apesar dos aumentos já verificados, ele ainda diz que o dossiê de candidatura dá uma boa ideia dos investimentos necessários para os Jogos.

No dossiê de 2008, foi estimado que a Olimpíada de 2016 custaria cerca de R$ 28 bilhões, em valores da época. Até agora, levando em consideração só os novos orçamentos já divulgados, o custo dos Jogos está em R$ 12,6 bilhões.

No dossiê de candidatura, informou-se que só o Comitê Organizador dos Jogos, órgão privado responsável pela operação da Olimpíada (alimentação e acomodação de atletas, por exemplo) gastaria R$ 4,2 bilhões de recursos próprios com o evento. O comitê divulgou seu orçamento na semana passada e atualizou o valor de suas despesas. Agora, espera gastar R$ 7 bilhões, ou seja, 67% mais do que o previsto. Descontada a inflação, o aumento é de 25%.

*Atualizada às 12h10