Chegou a vez de a África receber os Jogos Olímpicos?
Pieter Cronjé*Colaboração para o UOL
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram um enorme sucesso - pelo menos foi a impressão que passou para o espectador que estava vendo pela TV em outros lugares do mundo. A Rússia vai receber o próximo megaevento, a Copa do Mundo de 2018. Em 2022, Durban, na África do Sul, será a sede dos Jogos da Comunidade Britânica, muito menores que os Olímpicos.
Quando argumentava para o Comitê Olímpico Internacional (COI) que o Brasil e a América do Sul estavam prontos para receber os Jogos, o ex-presidente Lula questionou: "Se não for agora, quando será?"
A África do Sul organizou com sucesso a Copa do Mundo de 2010, pela primeira vez no continente. Estaria na hora de recebermos os Jogos Olímpicos na África? Três grandes economias, Nigéria, Egito e África do Sul, poderiam sediar uma Olimpíada. O prestígio político, o orgulho nacional e a oportunidade de marketing global são atraentes para muitos.
Um governo responsável deve, no entanto, tomar uma decisão muito cuidadosa e ponderada, estratégica, de longo prazo, econômica e empresarial, sobre se candidatar para ser sede. Os números mostram que cidades-sedes perdem dinheiro, os ganhos são muito menores do que os gastos.
A análise também mostra que é equivocado confiar em patrocínios e na iniciativa privada para contribuir com a maior ou uma parte significativa do financiamento necessário. Com a incerteza global, poucas empresas podem correr tal risco.
Por isso, é melhor mesmo que a maior parte do financiamento venha de instituições governamentais, de preferência utilizando sobras orçamentárias. Cidades-sedes podem enfrentar importantes problemas de desenvolvimento depois que todos os atletas, turistas e equipes de reportagem forem embora.
É importante que qualquer megaevento não seja o fim, mas apenas o meio para um fim. O alto investimento necessário para criar um sistema muito sofisticado e eficaz de transporte público, outras infraestruturas, estádios, instalações esportivas, alojamento e todos os locais de apoio só pode ser justificado se for parte de um plano de desenvolvimento de longo prazo da cidade.
O investimento deve ser viável e sustentável. Uma vez que uma cidade esteja comprometida com as enormes obrigações contratuais e entregas para o COI, empresas de construção e parceiros comerciais torna-se quase impossível parar o processo. Com prazos se aproximando cada vez mais rápido, a única maneira de compensar o tempo escasso é mais dinheiro, pessoas e máquinas. Oferta e demanda em tempo curto têm um preço altíssimo. É por isso que a maioria das cidades-sedes das Olimpíadas estoura o orçamento inicial.
Quando o Brasil ganhou a candidatura da Rio-2016, anos atrás, a economia era forte, havia reservas em caixa, programas de legado socioeconômicos, maturidade e paixão. Os recentes problemas políticos e econômicos do país, no entanto, são bem conhecidos.
Bilhões de pessoas assistem aos Jogos Olímpicos pelo mundo. Claramente, é o maior palco para mostrar uma cidade e um país. Representa uma oportunidade de marketing que o dinheiro não pode comprar. Se, no entanto, você tiver de lidar com o terrorismo, crime, greves, fatalidades, problemas de construção e financeiros, as notícias pelo mundo e as mídias sociais mostrarão isso também.
Além da conformidade técnica, um evento seguro, agradável e memorável encontra-se algo mais: uma oportunidade única e poderosa para criar benefícios de longo prazo e substituir imagens negativas por positivas internacionalmente. Mas o contrário também é verdade.
Levando tudo isso em consideração, a África está pronta para sediar a próxima Olimpíada? Com a atual situação econômica, a África do Sul não está pronta. Egito e Nigéria poderiam sonhar, mas seria melhor se concentrar em outras prioridades.
* Pieter Cronjé é consultor internacional. Foi diretor de Comunicação da Copa do Mundo de 2010 na Cidade do Cabo, África do Sul, por cinco anos. Foi convidado pela Fifa a apresentar workshops para cidades-sedes das Copas do Brasil e da Rússia