Rio não é perfeito, mas Olimpíada pode reverter a situação atual
Carlos Eduardo Nunes-Ferreira*Colaboração para o UOL
No período que antecedeu a abertura dos Jogos Rio 2016, o radicalismo que os brasileiros revelaram no debate político sobre o impeachment transferiu-se para a Olimpíada. E as redes sociais, novamente, têm sido a arena onde internautas se digladiam em uma falsa dicotomia.
Desejar o sucesso dos Jogos não significa necessariamente alienar-se ou perder a capacidade de identificar as mazelas de nossa cidade. Ao contrário, trata-se de vislumbrar uma possibilidade real de reversão da alarmante situação atual.
Cidade olímpica não é cidade perfeita. Afinal, o Olimpo era habitado por deuses temperamentais de amoralidade imortal. O Rio de Janeiro está longe da perfeição, cada dia torna-se mais fácil reconhecer o papel das intervenções olímpicas para a ressignificação da cidade.
Os novos corredores de mobilidade urbana possibilitarão novos fluxos econômicos e sociais. O metrô chegará, ao mesmo tempo, ao Leblon e à Rocinha. Deodoro e Madureira já ganharam novos parques públicos e a Avenida Brasil terá uma faixa seletiva digna do nome. E o que dizer do Boulevard Olímpico e da Orla Conde? Sem esquecer os novos túneis e do VLT.
O caso da Barra da Tijuca é o mais emblemático. Vetor de expansão do município até o final do século 20, consolidou-se como uma das novas centralidades da Região Metropolitana nos anos 2000. Mas a produção de riqueza e o aumento de empregos e serviços também atraíram uma população flutuante que congestionava as vias de ligação com as zonas norte e sul. Paradoxalmente, o maior bairro planejado da cidade vinha sofrendo as consequências de um crescimento sem controle.
A Olimpíada trouxe para a Barra a possibilidade de um novo começo. Associado à iniciativa privada, o poder público fez surgir um novo bairro em torno do Parque Olímpico. As linhas de BRT e metrô, a Transolímpica e a duplicação do Elevado do Joá combinadas permitirão um fluxo melhor de pessoas e veículos. As atividades crescentes na Cidade das Artes começam a preencher a lacuna cultural do bairro. Os inúmeros hotéis e a transmissão de belas imagens para o mundo deverão incluir, de uma vez por todas, a Barra da Tijuca no imaginário internacional do Rio de Janeiro.
O investimento já foi feito, entre erros e acertos. De maneira indireta, pode-se até atribuir à Olimpíada parte da origem de alguns de nossos problemas, mas agora ela é uma das alavancas disponíveis para a solução. Uma economia de serviços com padrão internacional pode posicionar o Rio como cidade global de negócios ligados à inovação, lazer, turismo, esporte e cultura. Se os recursos vindos dos Jogos forem bem geridos e revertidos para saúde, segurança, meio ambiente e educação, o legado mais importante de todos estará garantido.
O show está para começar. Ainda há tempo para o carioca escolher entre deixar que a Olimpíada se torne um carnaval triste e melancólico ou transformar os Jogos em uma celebração de alegria, competência e renovação – o maior ponto de inflexão na história recente da cidade.
* Carlos Eduardo Nunes-Ferreira é vice-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Estácio de Sá, apoiadora dos Jogos Rio-2016
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL