Coluna

Roberto Salim

Começa o ciclismo de pista, mas os escândalos do velódromo não acabam

Divulgação
Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

As provas de ciclismo chegam finalmente ao Velódromo, uma das obras mais polêmicas de todas as construções dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Nesta 5.a feira, ele será oficialmente aberto, mas existe uma dúvida em todos os que praticam ou se preocupam com a modalidade: será que após a competição ele será transformado numa casa de espetáculos? Se continuar sendo uma arena esportiva, quem vai arcar com as despesas, que não são pequenas? Será que custou os R$ 156 milhões anunciados oficialmente ou superou R$ 200 milhões, com as suplementações exigidas em cima da hora?

“O meu medo é que o velódromo fique com a prefeitura”, confessa Cláudio Santos, o presidente da Federação Carioca de Ciclismo. “Demolir como fizeram como o velódromo do Pan, eles não vão, mas são capazes de retirar a pista interna para virar uma casa de show, pois tem muitos atrativos, como a arquibancada para 5 mil pessoas, além de ser totalmente climatizado”.

A preocupação de Cláudio pode parecer excessiva, mas não é, principalmente depois que os organizadores da Rio 2016 destruíram a pista de madeira e desmontaram o velódromo do Pan-americano, sob a alegação de que ele não era adequado para a Olimpíada.

“Só no Brasil poderiam fazer uma loucura dessas”, denunciou na época o arquiteto Sander Douma, o holandês responsável pela construção de 2007. “Com obras de 18 milhões ele se adapta perfeitamente às exigências olímpicas”.

Os responsáveis pelos Jogos de 2016 preferiram gastar no mínimo dez vezes mais para realizar esta nova obra, que Cláudio Santos teme ver transformada em algo muito diferente de uma casa do ciclismo. Mas como manter um bem tão custoso?

“As alternativas existem, apesar dos gastos que não são pequenos. Só com a luz e o ar condicionado é uma fortuna. Mas, por exemplo, uma empresa pode dar o nome ao ginásio e patrociná-lo. Ou ainda o Ministério dos Esportes”.

Outro ponto favorável, que impediria a Prefeitura de por a mão no velódromo é o fato de que a verba para sua construção veio do governo federal, ao contrário da obra do Pan, bancada com recursos municipais: “Assim, a palavra final caberá sempre ao ministério”.

O presidente da federação tem planos bem definidos para usar o espaço: “Vamos incrementar a escolinha de ciclismo, vamos incentivar o alto rendimento, realizar clínicas, provas do ranking nacional, provas do ranking estadual e treinos de amadores para pedalar em segurança pela cidade”.

A realização de provas internacionais também deverá acontecer no velódromo, que é considerado um dos mais requintados do mundo: ”Por email , o Sander Douma, que é uma das maiores autoridades no assunto, me garantiu que ele é mais moderno que o centro de treinamento holandês”.

Velho velódromo não será mais em Pinhais

Mas as preocupações dos esportistas do ciclismo não terminam com o destino a ser dado ao novo velódromo. O antigo segue em sua via-crucis pelo Brasil. Depois de desmontado e de ter sua pista picada, ele foi oferecido à Prefeitura de Goiânia, que rejeitou a oferta: “Trata-se de um presente de grego”, disse corajosamente, na época, a secretária de obras da capital goiana.

Na sequência, ele foi oferecido à Prefeitura de Pinhais, ao lado de Curitiba. E os políticos locais aceitaram. Então o material foi levado em carretas para a cidade paranaense, ao custo de 2 milhões de reais. As ferragens foram colocadas em um campo de futebol e o material elétrico em um galpão, que custa “apenas” 10 mil mensais de aluguel. O material teve fiação roubada e já está guardado há mais de dois anos. A parte estrutural repousa a céu aberto pelo mesmo tempo. E está enferrujando. Até o momento a construção não começou. Nem deve começar.

“O Consórcio Pinhais, que tinha ganhado a licitação para a construção, pediu rescisão de contrato”, admitiu Ricardo Augusto Pinheiro, secretário de Esportes e Cultura de Pinhais. “Pelo contrato, era para o prédio principal já estar pronto, mas infelizmente o material continua se deteriorando ao relento”.

Pelos bastidores do mundo das bicicletas, comenta-se que existe uma nova proposta da Confederação Brasileira de Ciclismo, para que o velho velódromo ou seus destroços sejam levados até Londrina -- cidade que tem mais tradição no esporte. Muita gente duvida que a estrutura do Pan seja reerguida um dia. O que, convenhamos, não seria nenhuma surpresa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Topo