Coluna

Roberto Salim

Por que as goleiras da seleção estão dando tanta dor de cabeça a Vadão

Rafael Ribeiro/CBF
Divulgação
Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

Quando foi chamado para assumir a seleção feminina do Brasil, o técnico Vadão tinha pouca experiência com o futebol das mulheres. Na verdade, ela se resumia aos desafios que disputava com sua filha que queria ser jogadora. E ele não deixou.

“A gente disputava umas dungueiras” – revela a filha Carolina, entregando o pai, que batizava com esse nome o jogo improvisado e cheio de caneladas que os dois disputavam no quintal.

 Dungueira?

“É... o jogo típico do Dunga, com todo respeito”.

Aos poucos Oswaldo Alvarez foi conhecendo de perto a realidade do futebol das mulheres, impôs o toque de bola, priorizou as jogadas de bola parada e seu time roda como nos tempos do “Carrossel Caipira” do Mogi-Mirim. A equipe estaria pronta para a estreia olímpica contra a China não fosse um grave problema: as goleiras de Vadão.

Sim, o técnico tem problemas com suas guarda-metas.

E não é de hoje.

O gol tomado por Bárbara no último amistoso contra a Austrália, sábado passado, gera insegurança em todo o time. Foi uma falha daquelas... e olha que a pernambucana é a melhor do grupo nacional.

“Ela é espetacular. Foi minha reserva em Pequim, tem força muscular e auto-confiança”, sentencia Andréa Suntak, goleira de quatro olimpíadas e quatro mundiais. Ela esteve na seleção permanente até dezembro, mas rompeu com a comissão técnica e deixou Vadão na mão.

“Eu desisti na verdade, não queria ir só com o nome”, conta Andréa, que jogou de 1998 a 2015 no gol do Brasil. “Eu também não me conformava com as mentiras contadas: quando nos contrataram para a seleção permanente disseram que ganharíamos 10 mil por mês, mas não era verdade. O Fabrício Maia, coordenador técnico da seleção, falou para esquecermos esse valor e com uns descontos fantasmas o salário não chegava a 7 mil”.

Ela vai além: ”Prometeram também registro em carteira e era mentira”

Outra acusação: “Cancelaram o plano de saúde, fomos humilhadas. Eu tinha consciência disso e batia de frente. Por isso passaram a me perseguir. Então no dia 23 de dezembro, o Fabrício Maia me ligou e disse que eu não precisaria me reapresentar em 2016. Que a CBF estava fazendo redução de gastos e não precisava mais de mim. Na verdade, eles queriam que eu parasse de falar”.

“Então resolvi trabalhar como preparadora de goleiros e montar minha escola em Ribeirão Preto. Mesmo porque depois da Olimpíada pode apostar que vão acabar com a seleção permanente”.

Na escola em Ribeirão, ela treina apenas uma goleira, mas tem  30 goleiros. Andréa estava viajando quando o Brasil ganhou da Austrália sábado passado por 3 a 1, por isso não estava assistindo ao jogo pela TV. Mas ficou sabendo do frango da Bárbara.

“Não vi o gol mas já me falaram”.

Para ela, Bárbara não é o problema.

A segunda goleira é Aline, que estava nos Estados Unidos e chegou recentemente.

“Ela tinha parado de jogar, voltou a treinar na Ferroviária e foi convocada. Treinou só cinco meses”.

O doutor Marco Aurélio Cunha, supervisor da seleção brasileira, disse que as acusações de Andréa Suntak não devem ser levadas em conta. “Ela não merece que eu discuta o que ela falou. Vinha treinando mal e foi cortada. Pronto”.

O médico disse que as jogadoras preferiram não ser registradas, pois perderiam o direito à bolsa atleta: ”Foi uma opção delas”.

Esclarecimentos feitos, vocês acham que os problemas com as goleiras param por aí?

Pois não param.

A goleira titular do time, até recentemente era Luciana.

Mas ela passou a suplente do grupo olímpico.

“Tem uma história de que o time de Rio Preto não gostou da atuação dela na final do Campeonato Brasileiro contra o Flamengo e está querendo processá-la. Mas eu conheço a Luciana e sei que ela seria incapaz de se envolver em qualquer coisa errada”, aposta Andrea Suntak.  

A presidente do futebol feminino do Rio Preto explica que a decisão de pedir uma investigação à CBF não foi dela e sim do departamento jurídico do clube. “Foi o vice-presidente José Eduardo Rodrigues que encaminhou o pedido de investigação ao supervisor da seleção Marco Aurélio Cunha”.

Dorothéa admite que Luciana não jogou bem a finalíssima. “Todos nós fomos muito criticados: disseram que entregamos o jogo ao Flamengo, que é um grande time e teria mais repercussão sendo o campeão, ainda mais com a Olimpíada sendo realizada no Rio de Janeiro”.

Mais uma vez fomos ouvir o supervisor da seleção.

“Eles acusaram e agora devem provar. O caso foi levado por mim ao tribunal da CBF. Eu estava no jogo, não vi nada de errado. Qualquer goleiro pode falhar numa partida”.

O doutor Marco Aurélio garante que não foi por isso que Luciana ficou fora da lista inscrita inicialmente para os Jogos Olímpicos. “Foi uma opção do Vadão e do preparador de goleiros, nada a ver com a final do campeonato”.

Não bastassem todos esses casos com as nossas goleiras, Vadão se meteu num bate-boca internacional com a colossal Hope Solo, da seleção dos Estados Unidos. Ela anunciou que nas Olimpíadas do Rio estará protegida por um kit anti-zika, anti-mosquitos tupiniquins. E Vadão comprou a briga: “Melhor usar kit anti-mosquitos, que ter de andar com escudo, porque na terra dela matam as pessoas nas ruas”.

Na época das disputas dungueiras com sua filha, Vadão era tranqüilo e não sabia...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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