Quem é a pivô do basquete brasileiro que passou frio e vendeu flores na rua
O marido está trabalhando na Austrália. Por isso, ela foi passar o último fim de semana livre, antes da Olimpíada, com sua família. E por uma dessas coincidências, na noite de sábado, na volta de um passeio passou bem diante do restaurante Bora-Bora. Nem percebeu que estava no bairro de Moema bem em frente ao local onde ficava nas ruas e vendia flores nas durante as madrugadas da capital paulista.
“Eu estava dirigindo o carro e nem percebi, foi minha mãe que me chamou a atenção, dizendo: como o mundo dá voltas”, emociona-se a pivô Kelly, às vésperas de sua quarta Olimpíada com a camisa da seleção brasileira de basquete.
“Quando estava muito frio, minha mãe falava com o rapaz do estacionamento em frente e deixava a gente dormindo nos carros”.
Assim a menina Kelly e mais três irmãos foram criados por dona Lídia.
“Naquela época nunca pensei que seria uma atleta olímpica, muitos de meus amiguinhos se perderam nas ruas”.
As lembranças fortalecem a família, que ainda busca ingressos para os jogos da primeira fase da Olimpíada. Mamãe Lídia está confiante que conseguirá entrada para toda a sua turma. Mais ainda: tem certeza de que o Brasil irá surpreender a todos que desconfiam da força da atual seleção.
“Nossa vida já foi um milagre, pode acontecer outro com a equipe do Brasil. São meninas guerreiras, que são reconhecidas fora do nosso país, mas aqui são muito criticadas”.
Aos 36 anos, Kelly não está preocupada com as críticas, nem com a crise que já se estende há longos anos sobre a seleção nacional, que já foi campeã do mundo: “Nós não estamos ligando para opiniões negativas, sabemos de nossa força e de nossas chances. E uma vitória sobre a Austrália, na estréia, poderá dar a confiança que talvez ainda falte”.
Dona da medalha de bronze na Olimpíada de Sydney, Kelly se preparou como nunca para esta volta à seleção. Baixou muito de peso, segue uma dieta rigorosa e tem o diagnóstico que ajuda a entender o que aconteceu com a seleção nas últimas competições: “Nos últimos dez anos, tivemos sete treinadores diferentes. Isso impediu que tivéssemos uma estrutura de jogo, entrosamento ou confiança”.
Ela não concorda com quem critica o técnico Antônio Carlos Barbosa, chamado em cima da hora para apagar o incêndio que tomava conta da equipe.
“Dizem que ele está superado, mas é o nosso melhor treinador, sabe conduzir o grupo, tem a confiança de todas as meninas e sabe lidar conosco, sabe trabalhar com mulheres, sabe falar com a gente”.
Kelly sabe que muitos criticam o grupo que tem uma média de idade de quase trinta anos.
“Mas agora é fundamental essa experiência para reerguer o nosso basquete e sem qualquer pretensão, temos cinco pivôs que seleção nenhuma do mundo tem... é esperar para ver... eu estou confiante”.
Que o exemplo da família de Kelly da Silva Santos contagie o grupo. E a torcida de dona Lídia ajude na ressurreição do basquete que a ajudou a criar seus filhos.