Núbia defende a fama do Brasil no salto triplo, mas não deve ganhar medalha

Colunista do UOL
Arquivo pessoal
Núbia abraça seu treinador Neilton Moura

Uma estudante de Engenharia Mecânica, fã de Gisele Bündchen, com apenas 20 anos e muita preocupação social vai para o Rio de Janeiro defender uma tradição do esporte nacional: Núbia Soares vai disputar o salto triplo nos Jogos Olímpicos – ao lado de Keila Costa, que vai para sua quarta olimpíada. As duas levam uma responsabilidade extra em suas passadas e saltos: o Brasil não terá um representante sequer na prova masculina, rompendo uma história vitoriosa que passa por medalhas e recordes do mundo, obtidos por Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e João do Pulo (somente em 1964 não tivemos saltador).

“Eu não quero jogar esse peso sobre a Núbia” – esquiva-se o técnico Neilton Moura, que também foi saltador. “Minha melhor marca foi de apenas 15,25”.
 
A sorte de Núbia é que, em compensação, Neilton é com certeza o melhor técnico de saltos do país, seguindo a escola do mestre Pedro Henrique Toledo de Camargo, o Pedrão, técnico de João do Pulo. Nei, como é conhecido, não se preocupa apenas com a performance, ele cuida da alma e do ser humano.
 
“Fiquei muito feliz ao ultrapassar o índice olímpico que era de 14,15 no Troféu Brasil, mas a felicidade maior foi por ter atingido 14,17m e concretizar os planos do meu técnico, que estudou todas as possibilidades para eu evoluir nos treinamentos”, conta a menina de família humilde e 1,82m de altura, que veio da mineira Lagoa da Prata, onde jogou handebol e se iniciou no atletismo com o técnico Abel Mendes.
 
“Lá a pista era improvisada, como em qualquer cidade do interior... o piso era de cimento”.
 
Na Olimpíada a parada será duríssima, mas os objetivos são bem claros: bater o recorde brasileiro de Keila Costa (14,56m) e chegar à fase seguinte da competição.
“Se isso acontecer, ela estará entre as oito primeiras”, garante o técnico Neilton Moura.
 
Realista, ele sabe que o salto triplo feminino reunirá competidores de altíssimo quilate, como a colombiana Caterine Ibargüen, um verdadeiro fenômeno do esporte que, até outro dia, exibia uma série invicta em 31 provas e que já saltou 15 metros e 31 centímetros.
 
“Ela é muito legal, conversa com a gente e é amiga do Neilton... a Caterine o chama de profe...”.
 
O currículo da colombiana não a assusta.
 
E quando Núbia tiver os mesmos 32 anos da rainha do salto triplo, ela espera estar formada em engenharia, ter várias medalhas, ajudar o pai que é segurança, a mãe que trabalha numa companhia de ônibus e a irmã Rúbia, que é atleta de lançamentos em Lagoa da Prata. E como Gisele Bündchen pretende ter muitos projetos sociais para ajudar os menos favorecidos.