! Thiago Braz se junta a ídolos imortais do atletismo do Brasil. É fenomenal! - 16/08/2016 - UOL Olimpíadas

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Thiago Braz se junta a ídolos imortais do atletismo do Brasil. É fenomenal!

Opinião dos Especialistas

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Durante a Rio-2016, o time de comentaristas do UOL trará colunas com informações e opiniões sobre as principais modalidades olímpicas.

Rui Barboza Neto

Colaboração para o UOL

Fenomenal! Muitas palavras vieram à minha cabeça para definir o que aconteceu hoje no Estádio Olímpico, mas essa resume o feito de Thiago Braz na Rio-2016. O brasileiro conseguiu algo histórico. Não só pela excepcional medalha de ouro. Não apenas pelo recorde olímpico. Não só pela vitória sobre o recordista mundial da prova e, até então, recordista olímpico. Foi tudo isso junto em uma prova quase destinada a uma gloriosa medalha de prata.

Thiago se junta, mesmo que em um patamar um pouco mais abaixo, a ídolos imortais do Brasil, como Adhemar Ferreira da Silva (bicampeão olímpico do salto triplo, em 1952 e 1956), João do Pulo (tricampeão mundial e medalhista de bronze em 1976 e 1980) e Joaquim Cruz (ouro nos 800m em Los Angeles-1984 e prata na mesma prova em Seul-1988). Todos eles foram recordistas mundiais de suas provas.

Voltando à palavra que inicia o texto, sim, acredito que Thiago Braz possa se tornar um fenômeno, pois as atitudes mostradas hoje levarão a isso. O atleta de 22 anos tem muita coisa para construir e chegar lá. E essa trajetória já teve um primeiro capítulo.
 
Vamos começar a história desde a fase de qualificação da Olimpíada do Rio. Thiago entrou na prova com muitas chances de se classificar à final, devido ao momento que vive na temporada.  Ele, porém, teve um começo de disputa perigoso: na altura de 5,45 metros, errou duas vezes e preferiu não arriscar a terceira tentativa nessa altura. Assim, logo buscou 5,60 metros. 
 
Thiago tinha apenas uma chance. Mesmo sendo uma altura baixa para ele, o temor de mais uma falha em momento importante poderia mais uma vez derrubá-lo. Importante ressaltar que o atleta tinha um histórico desfavorável em relação a isso - eliminações precoces ocorreram no Pan de Toronto 2015 e no Mundial de Pequim 2015.
 
Hoje, entretanto, Thiago teve sucesso. Na altura de 5,70 m, o brasileiro precisou de apenas uma tentativa para passar. Com isso, estava na final, deixando aquele temor de lado e aumentando a confiança no seu rendimento.
 
A chuva veio e colocou um ingrediente a mais na prova. Para todos os atletas, ela seria um fator de preocupação. Menos para um, o astro da prova: o francês Renaud Lavillenie, recordista mundial e olímpico da prova, além campeão em Londres-2012.  
 
Enquanto todos os atletas optaram por começar na altura mais baixa, em 5,50 metros, Lavillenie avisou que só saltaria quando o sarrafo estivesse em 5,75 metros. Thiago também não se abalou com a chuva e decidiu saltar só quando o sarrafo marcasse 5,65 metros. Com confiança e postura de campeão, era necessário executar. 
 
Thiago teve um erro na altura de 5,75 metros. Na segunda tentativa, superou com tranquilidade o sarrafo. Àquela altura, ele já tinha visto alguns adversários caírem pouco a pouco, inclusive um excelente atleta canadense Shawnacy Barber. 
 
Com o sarrafo a 5,85 metros, sobravam seis atletas na prova, com Thiago na quarta colocação. Era importantíssimo, ali, vencer o sarrafo de primeira. Ele, então, superou a marca e começou a executar saltos como um campeão. 
 
Confiante e com o pódio praticamente garantido, Thiago tentou bater o recorde pessoal e sul-americano. Ele errou na primeira chance, mas demonstrou que não estava contente com o provável pódio. O atleta queria a melhor colocação possível. Na sua segunda tentativa, em 5,93 metros, o recorde foi quebrado. A fantástica medalha de prata estava garantida.
 
Mas Thiago não se contentou com a segunda colocação. Ali ele já era um atleta com cabeça e físico de campeão. Ousou e resolveu desafiar o maior atleta da prova, que não tinha cometido nenhum erro até então. O ouro era mais do francês do que do brasileiro. 
 
Sarrafo a 5,98 metros: Lavillenie passou de primeira. Thiago não se abalou e decidiu não tentar essa altura. E foi direto para 6,03 metros. Eram dez centímetros a mais que seu melhor, algo muito significativo em uma prova desse nível. 
 
A estratégia era corretíssima, pois de nada adiantaria saltar 5,98 metros. Um campeão não se contenta com tal marca. Um medalhista de ouro vai em busca do mais difícil. Na sua segunda tentativa, o feito histórico aconteceu: Thiago passou! Era inacreditável o que acontecia no Estádio Olímpico! 
 
Lavillenie não teve outra alternativa a não ser buscar 6,08 metros. Já abalado com a situação e se irritando com as vaias da torcida, o francês não conseguiu. E viu Thiago Braz fazer história. Uma das mais bonitas do atletismo brasileiro.
 
*Rui Barboza Neto é treinador de atletismo do Clube Esperia, da Universidade Mackenzie e da Associação Atlética Acadêmica José Douglas Dallora (Medicina Sto Amaro). Bacharel em esporte pela Escola de Ed. Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo). ele é um dos comentaristas do Placar UOL Olimpíada.
 
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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