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A importância do "não" das tenistas ao vestido da Nike em Wimbledon

Julian Finney/Getty Images
Vestido traiu Cagla Buyukakcay durante a estreia em Wimbledon imagem: Julian Finney/Getty Images

Colaboração para o UOL

Na primeira semana de um dos maiores torneios de tênis do mundo, o foco das notícias ficou longe dos resultados. A polêmica do fatídico vestido da Nike dado às tenistas representantes da marca dominou as manchetes internacionais e chamou a atenção principalmente por uma razão específica: o “não” das tenistas.

É importante ressaltar aqui que um “não” nunca deve ser ignorado. E esse de Wimbledon pode se tornar um marco histórico para a modalidade.

O vestido elaborado pela Nike era bonito, atraente e sensual, na opinião de muitos. Mas a fornecedora esportiva esqueceu apenas um detalhe aí: não era para ser apenas um vestido – ele era o uniforme das jogadoras e, como tal, deveria oferecer o mínimo de conforto para quem precisa, acima de tudo, jogar tênis.

“Acho que as jogadoras estão se manifestando porque realmente chegou num ponto que a sensualidade está sendo mais importante, está sendo prioridade, em vez do conforto. Acho muito desconfortável, eu teria dificuldade de jogar com um vestido todo solto, mostrando tudo por baixo”, disse a ex-tenista brasileira Patrícia Medrado às dibradoras.

Mas o vestido fatalmente passaria despercebido pela imprensa e pelo público em geral, não fosse a atitude das tenistas em demonstrar insatisfação com ele. A britânica Katie Boulter tirou a faixa da cabeça e colocou na cintura para segurar o uniforme que não parava de subir. A tcheca Lucie Hradecka usou uma legging por baixo para não ter preocupações. E, mais do que isso, elas disseram não.

"Na hora do saque, o vestido subia, eu sentia que ele estava voando para todo o lado”, disse a sueca Rebecca Peterson.

"Não me sentia confortável mostrando tanto", disse Sabine Lisicki, finalista do torneio em 2013.

Recall

A reação das jogadoras forçou a Nike a liberar o uso de saias e blusas, o uniforme “tradicional” das mulheres tenistas e até a fazer um “recall” dos vestidos. Publicamente, a marca deu uma “disfarçada”.

“O produto não sofreu recall. Nós frequentemente personalizamos produtos e fazemos alterações para atletas durante competições”, disse um porta-voz da Nike. “Trabalhamos em estreito contato com nossos atletas para lhes fornecer produtos que os ajudem em seu desempenho e a se sentirem bem em quadra”.

Será? Ou será que a marca está mais preocupada em chamar a atenção da mídia para suas atletas pela “sensualidade” de seus uniformes –  e não pelo resultado dentro de quadra?

“Acho que, quando é para os homens, as marcas estão buscando sempre a praticidade, o conforto, mas para as mulheres, a gente sabe que tem sempre essa questão do que é mais bonito, a sensualidade, a mulher sempre como objeto sexual”, pontuou Medrado.

“O tênis está muito profissional, elas querem estar bem para ganhar, você precisa de muita concentração para isso e é super desagradável a todo momento o vestido ficar subindo.”

Histórico

Não é de hoje que as roupas das tenistas chamam a atenção e viram assunto na mídia. Foi nas décadas de 1950, 1960 e 1970 que o uniforme das atletas em Grand Slams passou por uma transformação para ficar mais “elegante” – e o estilista britânico Ted Tinling foi um dos grandes responsáveis por isso.

Mas agora já não é mais questão de estilo. Muitas vezes, tem sido questão de “apelo”.

“Sempre que a mulher aparece se busca essa exploração da imagem dela. Os contratos que elas conseguem como modelo são às vezes muito melhores do que o que elas ganham na quadra como atletas, então elas também acabam se deixando levar por isso, porque sabem que o mercado é favorável a isso”, disse Medrado

“Só que cada vez mais as mulheres estão falando mais abertamente sobre isso e estão reclamando seus direitos.”

O “não” das tenistas em Wimbledon é importante e é histórico porque marca a reação de atletas de uma modalidade que virou símbolo da luta por igualde de gênero no esporte – o tênis é a única modalidade que premia homens e mulheres de maneira igual nos principais campeonatos. E porque manda um recado à mídia e ao resto do público: elas não vão mais aceitar esse tipo de coisa. E vão exigir ser tratadas como as atletas que são – e com todo o respeito que merecem por isso.

“Acho que vai ser um marco, foi um momento importante. Mais uma vitória das tenistas, das mulheres, que não aceitam mais ser submissas e mostram mais o seu poder e sua opinião”, finaliza Medrado.

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