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Flerte abre concorrência de gringos e chuppies

Rodrigo Bertolotto

Em Pequim

As estatísticas apontam que até 2020, 40 milhões de homens chineses serão condenados à solteirice pela defasagem entre os gêneros no país. Esse déficit já é sentido: 42 mil chinesas foram seqüestradas nos últimos anos por celibatários descontentes com o destino.

Então, por que os estrangeiros são permitidos nas noitadas de Pequim? Mesmo com métodos mais civilizados de sedução, os gringos prejudicam ainda mais essa escassez feminina no país. A razão para esse cenário: o governo comunista nos anos 70 determinou o limite de um bebê por família para conter a explosão populacional e, como efeito colateral, surgiu uma onda de infanticídio de meninas e abortos seletivos. As famílias preferiam ter filhos homens para cuidar do campo e dos pais quando envelhecessem. Agora, as rarefeitas “little china girls” não podem ser mais paradas nestes tempos globalizados.

O assédio delas aos gringos era maior há cinco anos, afinal, os forasteiros simbolizavam a chance de ascensão social e uma emigração voando em classe executiva. Os homens chineses recuperaram espaço com o surgimento dos chuppies, como ficaram conhecidos os yuppies da China. Apesar disso, o conselho para abordar uma garota chinesa é: deixa que elas cheguem junto.

Flávio Florido/UOL

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Apesar da iniciativa das mulheres, os costumes de Pequim estão bem longe da etiqueta de micareta. A mania de tocar dos brasileiros é vista como invasiva pelas chinesas. Abraçar, colocando as mãos nos ombros delas, então, é ofensivo: os ombros são considerados zonas tão erógenas como os traseiros.

“As chinesas são bonitas, mas não têm traseiro. Já quanto aos homens: é difícil achar um bonito”, se lamenta a italiana Ivana Angioni, que vive há 12 anos em Pequim e estuda a história do país. Por essa característica física, as garotas vindas da vizinha Mongólia se destacam. Elas são mais altas e curvilíneas.

Em geral, as jovens boêmias de Pequim falam inglês. São de classe média, média alta e estão no mercado de trabalho. Mas algumas palavras-chave em chinês sempre ajudam a quebrar o gelo, como “Pio Liang” (Você É Bonita). A vida noturna se concentra na região das embaixadas, perto do estádio dos Trabalhadores e ao redor do lago de Hou Hai. Uma visita à boate Mix, bem na entrada do estádio, mostrou como é a vida noturna pela capital chinesa.

Na chegada, a porta de saída com um fluxo de 30 pessoas por minuto deixando o local apontaria que a balada estava miando. Ledo engano. Em Pequim, você tem que torcer por um lugar que não esteja abarrotado, afinal, trata-se de um país de 1,3 bilhão de pessoas.

Os garotos bebem pesado. Em uma mesa um garrafão de cinco litros de uísque (a um custo der 3.880 yuans, quase 1.000 reais) é acompanhado por um engradado de água mineral e chá verde enlatado. O barulho vindo das mesas parece o tilintar das pedras de gelo nos copos de uísque. Mas não é. Eles jogavam dados, enquanto na pista de dança as garotas rebolavam ao som de um hip hop gangsta. Duas delas usam a manjada tática de se roçarem para atrair a atenção masculina. A performance, porém, era atrapalhada pelas dezenas de garçons que também entravam no roça-roça, mas para entregar seus pedidos – que podiam ser um pote de noodles, uma pizza ou uma porção de pato apimentado.

No final da noite, percebe-se a realidade estatística chinesa. Cansadas de só dançar, elas desaparecem, e a casa fica exclusivamente masculina.

Publicado no dia 24 de março de 2008

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