UOL Olimpíadas 2008 UOL em Pequim
 

Barrado, kung fu brilha na academia de Jet Li

Rodrigo Bertolotto

Em Pequim

Se o kung fu fosse modalidade olímpica, a vaga brasileira estaria mais perto de um Diego Hypolito do que de um Popó ou de um membro do clã Gracie. Isso porque a competição do mais chinês dos esportes é exercício solo de destreza, em que os jurados dão nota para os rodopios, saltos, e pousos. E não há uma única troca de sopapos.

Mas os ginastas não terão essa concorrência em Pequim. Já em 2006 o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, descartou a idéia dos anfitriões de colocar o kung fu como esporte de exibição dentro do programa dos Jogos. Tudo em nome da compactação do maior evento esportivo do mundo (Tóquio-1964 introduziu o judô, e Seul-1988 encaixou o taekwondo quando os tempos eram de expansão).

Desse jeito, quem quiser ver em Pequim a destreza local terá que apelar para um espetáculo pega-turista com mestres do templo Shaolin que fazem versão for export da tradição. No ponto alto do show, um monge é erguido por pontiagudas lanças, com seus músculos e concentração impedindo que seu corpo seja perfurado pela força da gravidade.

Ou então, a outra opção é ir a alguma sala de cinema ver os astros Jackie Chan e Jet Li, que estarão pela primeira vez em um mesmo filme neste ano, a produção “O Reino Proibido”. A reportagem do UOL Esporte esteve na academia onde Jet Li treinou durante dez anos para se tornar um dos esportistas mais destacados antes de virar uma estrela das telas.

Flávio Florido/UOL

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O salão da escola de esportes Shichahai, a treinadora se destaca com seus gritos. Com um bastão comprido, aponta as costas do pupilo, pedindo uma posição mais ereta ou mais equilibrada.

Outro aprendiz faz seu balé brusco, com chutes no ar. No final do exercício, ele pousa no piso em um espacato. Parece perfeito. A treinadora, porém, reclama: “Pense antes de se mexer. Olhe para cima.” Depois vem o treino com vara de bambu e com espada. Entre uma e outra sessão puxada, um gole na garrafa com chá verde, que serve como líquido isotônico.

Foi essa mesma rotina que Li Lianjie teve de enfrentar até virar tetracampeão chinês em 1979, se retirar das competições e entrar para o cinema com o nome artístico de Jet Li. Órfão do pai desde os dois anos, a mãe o deixou como aluno interno do colégio esportivo desde os oito. Já com onze anos conseguia seu primeiro título nacional juvenil. “Ele era um aluno muito disciplinado e nunca fez confusão aqui”, conta a diretora Feng Shi.

Ele aprontou mesmo foi nas telas, primeiro como vilão no filme hollywoodiano “Máquina Mortífera 4” e depois como mocinho na superprodução chinesa “Hero”. Junto com Jackie Chan, virou um dos seguidores do pioneiro Bruce Lee, que popularizou com filmes como “Operação Dragão” esse subgênero pelo mundo nos anos 70, junto com a série de TV protagonizada por David Carradine, que fazia o papel de monge shaolin que migrava para os EUA.

Agora o movimento é contrário: o templo Shaolin, na província de Henan, abriu suas portas para 500 estudantes norte-americanos para um curso de artes marciais. O abade Shi Yongxin agradeceu a visita dos “peregrinos” ao local fundado no ano de 527 pelo monge indiano Bodhidharma.

Mas o maior sinal dos tempos foi o reality show “K-Star”, sucesso da TV chinesa que reuniu 108 candidatos escolhidos para um treinamento com os mestres do templo para escolher apenas um. Além das aptidões físicas e técnicas, os concorrentes tinham que ser bons de carisma, afinal, os telespectadores votavam neles por celular e internet – coisa que os chineses não fazem nas urnas para escolher seus mandatários.

Além do cinema, TV e dos shows turísticos, quem visitar Pequim poderá ver um pouco da arte marcial em um torneio internacional (com participação de competidores brasileiros) que acontecerá de 21 a 24 de agosto, datas que coincidem com os últimos dias dos Jogos Olímpicos.

Publicado no dia 2 de maio de 2008

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