Sem seu maior medalhista, natação vê grupo mais equilibrado
Bruno Doro
Em Macau (CHN)
Nas últimas Olimpíadas, a história da natação brasileira girava sempre em Gustavo Borges. Ícone da modalidade no país, em Pequim o velocista paulista não estará com o time pela primeira vez desde Barcelona-1992, quando conquistou a primeira de suas quatro medalhas olímpicas.
Sem seu ícone, a natação brasileira adotou a democratização das lideranças e dividiu as atenções do público. Nesse contexto, os badalados Thiago Pereira e César Cielo aparecem como figuras predominantes, mas a voz ativa de veteranos como Fabíola Molina ou Rodrigo Castro também é ouvida.
"Essa nova geração já se firmou como a cara da natação brasileira atual. A gente tem Fabíola e Rodrigo, que já foram para as Olimpíadas e podemos tirar deles a experiência que precisamos. E a parte de resultado, temos com o Thiago (Pereira), com o Kaio (Márcio), comigo. É um grupo que está junto há um tempo, está bem descontraído e confiante para o que vai fazer nas Olimpíadas", diz César Cielo.
Para os técnicos que acompanham o time, a diferença é nítida. Sem um ícone, as atenções ficam divididas. E as personalidades dos mais conhecidos, como Pereira e Cielo, se destacam.
"O César e o Thiago têm essa postura de liderança natural, apesar do César ser mais descontraído, mais brincalhão, com aquela coisa de tudo ou nada. Para ele, parece que é ganhar ou ganhar, ele é sempre muito vibrante", elogia o técnico Alberto Santos, o Albertinho, que foi para Atenas-2004 e testemunhou a última Olimpíadas de Borges.
Para Fernando Vanzella, técnico de Pereira, na equipe feminina a liderança é mais definida. Já na masculina, é dividida. "A Fabíola Molina é uma líder. E uma atleta como a Daynara (de Paula), que nunca pegou seleção, se espelha nela. Fabíola tem experiência como profissional. No masculino, existe respeito, mas um ajudando o outro, não existe um líder específico. Uma hora é o Rodrigo, outra hora é o Cielo, outra hora é Thiago, eles vão se revezando dependendo do momento".
A discussão pode parecer secundária em um esporte puramente individual, mas, a comissão técnica garante, faz diferença. "O grupo sentiu muito logo no primeiro ano depois que não só o Gustavo, mas o Fernando Scherer e o Rogério Romero deixaram o time. Mas a transição foi muito rápida. O Thiago passou a ocupar esse espaço de ídolo, por causa de seus resultados. E o César veio e quebrou os recordes do Gustavo e do Fernando e virou uma referência".
O status que, principalmente, Borges e Scherer, detinham, porém, segue longe da natação brasileira. E o vilão é justamente a medalha, que não vem desde Sydney-2000, quando Borges liderou o revezamento 4 x 100 m ao bronze. "Isso a gente só consegue atingir com uma medalha", diz Albertinho.