UOL Olimpíadas 2008 Reportagens Especiais
 
16/08/2008 - 14h26

Imprensa internacional "veste a camisa" para acompanhar Olimpíada

Rodrigo Bertolotto
Em Pequim (China)

A auto-estima do brasileiro experimenta agora seu estágio de empolgação após o ouro do nadador César Cielo. Até ali a brincadeira era que a delegação nacional veio se bronzear no sol de Pequim, afinal, tinha colecionado quatro medalhas de bronze. Alimentado pelas vitórias, o patriotismo é um dos componentes da Olimpíada e tem espaço também nas salas de imprensa.

Seja por identificação, por orgulho nacional, por obrigação ou simplesmente para estrear o presente, boa parte dos jornalistas que vieram cobrir os Jogos têm suas nacionalidades facilmente identificadas, afinal, envergam o uniforme de suas delegações na China.

A imprensa tailandesa, por exemplo, é detectada por uma cor: os 15 jornalistas do país no Main Press Center usam a vestimenta oficial celeste com o nome do país nas costas. A atitude seria compreensível se fossem assessores do comitê olímpico. Mas mesmo os correspondentes de veículos concorrentes se uniformizaram. "Ganhamos três jogos de uniformes. Agora já usamos essas roupas como forma de identificação", conta Premwadee Pathong, enviada do "Post Today".

Esse grupo celeste da Tailândia pôde ser visto em massa no levantamento de peso, no qual o país asiático ganhou ouro com uma halterofilista de nome quilométrico: Prapawadee Jaroenrattanatarakkon.

Mas não pense que a mania se limitou às nações pequenas. A Rússia vestiu seus jornalistas com o mesmo modelito dos atletas, em três versões: branco, vermelho e azul. Uma jornalista do diário esportivo "Sovetsky Sport" até ofereceu vender um dos mimos que ganhou de seu comitê olímpico. Disse que recebeu sondagem para trocar, mas está esperando novas propostas, afinal, não lhe agradou a vestimenta da Grã-Bretanha (até a distanciada imprensa britânica aderiu à moda patriótica).

Em outros países é sintomático "vestir a camisa" do país. É o caso de Cuba, afinal, toda sua imprensa tem a chancela do governo de Raúl Castro, um dos últimos de orientação comunista no mundo. Assim a rádio "Rebelde", a "TV Cubavision", a agência "Prensa Latina" e os jornais "Granma" e "Juventud Rebelde" adotaram o uniforme da Adidas assim como o discurso de só falar de esporte e não de política em seus textos.

Na primeira semana de Olimpíada, os repórteres cubanos seguiram o ouro na luta e as medalhas do judô na primeira semana, mas torcem por um melhor desempenho da segunda, quando costumeiramente saem os pódios do boxe, atletismo e beisebol, para melhorar a posição no quadro de medalhas. E para não precisar escrever sobre as dificuldades caribenhas para manter o nível técnico da época da Guerra Fria.

Outro exemplo é o Cazaquistão e sua imprensa vestida de azul com o nome na nação da Ásia Central em amarelo nas costas. O país ainda é um adolescente em termos de anos de independência (17 anos), mostrando uma auto-afirmação típica dessa idade. Por outro lado, há pouco espaço para uma imprensa crítica tendo pela frente a mão-dura do governo de Nursulatan Nazarbayev, no poder desde 1991. Então, não há mais jeito que vestir as cores nacionais aos escribas cazaques.

Os sérvios também são rapidamente localizados em meio à multidão jornalística. Eles usam camisetas e bonés com a palavra Srbija, Sérvia em sérvio. Entre eles estão os jornalistas da agência estatal Tanjug, voz oficial durante os ainda recentes conflitos nos Bálcãs.

Em Pequim, porém, a luta foi para o nadador sérvio Milorad Cavic ficar com o ouro nos 100 metros borboletas, que acabou nas mãos do multimedalhista Michael Phelps, dos EUA. A imprensa sérvia comprou a versão de seu comitê olímpico, protestando pela decisão em favor do norte-americano. No tênis, também não foram felizes, com Novak Djokovic perdendo para Rafael Nadal na semifinal e ficando apenas com o bronze.

Uma cena explícita de patriotismo e rivalidade foi vista na prova masculina de estrada. Ambas as partes envergando uniformes de seus países, jornalistas italianos e espanhóis se provocavam na reta final, e os ibéricos explodiram de entusiasmo com a vitória do ciclista Samuel Sánchez sobre o itálico Davide Rebellin.

As camisetas se multiplicam nas áreas de trabalho dos jornalistas: Haiti, Chile, Uruguai, Croácia, Hungria, Bulgária, etc. Até Taiwan, a ilha que a China chama de "província rebelde" e quer de volta a sua jurisdição, tem repórter com o agasalho tendo nas costas a inscrição "Chinese Taipei". Mesmo um nacionalismo proibido no país-sede dos Jogos abriu seu espaço entre os homens de imprensa.

Compartilhe: