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Em Macau, a língua portuguesa quase só é encontrada em placas de estabelecimentos

Em Macau, a língua portuguesa quase só é encontrada em placas de estabelecimentos

Veja fotos das placas pelas ruas de Macau com algumas frases na lingua portuguesa

26/07/2008 - 10h30

Brasil olímpico se adapta ao fuso chinês na cidade do "português de placa"

Bruno Doro
Em Macau (China)

Chegar ao Aeroporto Internacional de Macau é reconfortante para os brasileiros. Após maratonas aéreas, que podem chegar às 44 horas que os atletas do time olímpico de natação enfrentaram, é sempre bom olhar para as paredes e ler palavras como saída, informações ou lavatórios.

Uma pena que o português de Macau, onde o Comitê Olímpico Brasileiro instalou sua principal base de aclimatação para os Jogos de Pequim, em agosto, seja mais de placas do que de pessoas. Encontrar quem fale o idioma de Camões, que ainda é oficial nas ruas macaenses, é raro.

Segundo estatísticas da Universidade de Macau, por exemplo, apenas 2% da população é lusófona (falante do português). O restante fala, em sua maioria, o cantonês, mais complicado do que o já impossível de se entender mandarim, falado em Pequim. Essa convivência de línguas tão diferentes causa risadas em quem anda pelas ruas.

Toda loja ou restaurante tem seu nome em caracteres chineses em letras garrafais. E seu nome em português pequenininho, em um canto. Alguns desses nomes, já fruto do desuso da língua dos colonizadores, contêm erros. Em uma das vielas do centro da ilha principal, você encontra um "estaberecimento decomida" logo à frente de um "estabelecimento de comida", ambos restaurantes.

Até mesmo os caracteres latinos são vistos com estranheza. Nos táxis, cada motorista tem uma lista de hotéis da cidade, com o nome em português (ou inglês, já que a maioria dos hotéis-cassino da ilha "imitam" nomes de Las Vegas, nos Estados Unidos) ao lado dos caracteres chineses. Mesmo se o turista escrever o nome em um papel eles não costumam entender.

O detalhe curioso, porém, fica por conta do nome das ruas. Os taxistas podem não saber, mas andam pela Avenida do Rodrigo Rodrigues, entram na Viela dos Sonhos ou param em frente ao Largo do Senado. Os integrantes da equipe brasileira já se divertem com esse aspecto curioso.

"Nós não temos problemas com a língua. Só não entendemos uma palavra que eles falam. Eles não falam português e nós não entendemos chinês. Então, fazemos como o ditado. Se você tem um problema que não tem solução, já está solucionado", brinca o chefe do time de natação, Rômulo Noronha.

O time de tiro, porém, já encontrou um lusófono pelo caminho. E, para espanto da dupla de atiradores, com os olhos puxados. "Quando fomos pegar as armas na transportadora, estávamos brincando quando o policial que foi nos acompanhar nos surpreendeu falando português", disse o técnico Volney de Melo Filho, veterano do Pan de Winnipeg-99, que está acompanhando Júlio Almeida, que participará das provas de pistola de ar, pistola livre e tiro rápido em Pequim.

Macau, formada pela península que dá o nome ao território e mais duas ilhas, Taipa e Coloane, foi escolhido pelo COB justamente pelo uso do português. A língua é oficial por lá, mas é usada apenas pela classe mais alta, geralmente formada por portugueses ou por famílias tradicionais. Nos negócios e nos assuntos legais, porém, o idioma usado ainda é o português.

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