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Meia do Milan basta para entreter turistas e locais durante os Jogos

Meia do Milan basta para entreter turistas e locais durante os Jogos

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07/08/2008 - 13h35

Proximidade de Ronaldinho faz chinês relevar seleção sem brilho

Bruno Freitas
Em Shenyang (CHN)

Pouco interessou o nível técnico inconstante da seleção brasileira, as raras chances de gols e o exagero de jogadas ríspidas na partida contra a Bélgica nesta quinta-feira. Em Shenyang, a proximidade de Ronaldinho Gaúcho foi o bastante para compensar os detalhes mais monótonos do espetáculo e para assegurar o estado de êxtase do público de 39.661, composto basicamente pelos locais chineses.

As cenas que envolvem Ronaldinho na China nos últimos dias possivelmente conferem ao camisa 10 da seleção o status de esportista mais popular das Olimpíadas, a despeito da distância geográfica entre o local de sua atuação e Pequim, núcleo dos Jogos, em reputação mais destacada do que o de nomes como o nadador Michael Phelps, o tenista Roger Federer ou a russa Yelena Isinbayeva, do salto com vara. Pelo menos no início do evento.

O brasileiro é tratado no país das Olimpíadas quase como um ser de outro planeta, com uma reverência espantosa. O jogo contra a Bélgica nesta quinta ofereceu uma série de exemplos da devoção ao craque, idolatrado na Ásia principalmente pelo repertório de jogadas plásticas que acumulou na Europa nos últimos anos.

A torcida que lotou nesta quinta o estádio Olímpico de Shenyang (não chegara a ocupar nem a metade para a rodada do futebol feminino, na véspera) praticamente ignorou a apresentação sem graça da seleção de Dunga, que teve imensa dificuldade de passar por 1 a 0 pela Bélgica (gol de Hernanes), que terminou o duelo com dois jogadores a menos.

Nenhuma vaia foi ouvida durante a partida, mesmo nos instantes mais monótonos, que não foram poucos. Os chineses chegaram a aplaudir até cobrança de lateral. Mas o barulho era significativamente maior quando Ronaldinho partia para um dos corners para bater um escanteio.

Interessava mais aos chineses a proximidade de Ronaldinho. Cada toque na bola do astro provocava frenesi e barulho nas arquibancadas. Algo parecido, por exemplo, aconteceu durante a execução do hino nacional brasileiro, quando a reação pela imagem do meia-atacante no telão fez a canção ficar inaudível.

No anúncio dos jogadores do Brasil, a resposta da platéia para os outros dez titulares da seleção foi praticamente nula. Mas, quando o nome de Ronaldinho foi proferido, o estádio enlouqueceu. Mesmo com tamanha atenção em sua volta, o astro prefere se mostrar alheio, talvez como estratégia para exibir 'pés-no-chão' ou para não inspirar diferenças de tratamento em relação aos companheiros de elenco.

"Eu nunca parei para pensar sobre isso (sobre as reações exageradas do público chinês a seu respeito). Mas é claro que eu gosto desse carinho. Espero jogar bem nessas Olimpíadas e continuar agradando", respondeu a estrela do Milan, vagamente, logo após a vitória sobre os belgas na estréia olímpica.

Outras cenas, anteriores ao jogo desta quinta, constroem o quadro de que Shenyang parece mais interessada em Ronaldinho do que propriamente na seleção. Na entrevista coletiva que concedeu nas vésperas da estréia, o brasileiro levou minutos dando autógrafos para jornalistas chineses antes de poder começar a responder perguntas.

No hotel que hospeda a seleção, um rigoroso e exagerado esquema de segurança foi montado para isolar o local e permitir acesso restrito. Poucas pessoas podem se aproximar do local, mesmos entre as credenciadas paras os Jogos.

Lá, em cena descrita pelo staff da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), é necessário passar por umas 20 pessoas e aparatos de segurança para ingressar no hotel. Mas, quando chega a vez de Ronaldinho ser revistado, todo o esquema se desmonta e atrasa para que cada um possa desfrutar de um pouco de tempo com o jogador.

Agora é esperar como a popularidade de Ronaldinho vai ficar ao longo das Olimpíadas, principalmente caso a seleção chegue a Pequim nas finais para dividir espaço com o 'quente' dos Jogos, como o atletismo. Resta saber também se o afeto pelo astro vai seguir sustentando a boa vontade chinesa com a seleção, ou se o time de Dunga engrena como se espera e se desvencilha dessa teórica dependência.

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