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Minaretes de parque temático dividem paisagem com Olimpíada

Minaretes de parque temático dividem paisagem com Olimpíada

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02/08/2008 - 12h45

"Parque Racista" coloca tibetanos e islâmicos perto das Olimpíadas

Rodrigo Bertolotto
Em Pequim (CHN)

Como podem estar na mesma foto o estádio conhecido como o Ninho do Pássaro, e um minarete muçulmano? Isso só pode ser explicado porque o "Parque Racista" é vizinho de outro parque mais midiático: o Parque Olímpico.

Na verdade, o nome do local é um dos mais clássicos exemplos de "chinglês", ou seja, a mistureba que os chineses fazem no esforço de assimilação do inglês. Batizado como Parque das Nacionalidades Chinesas, a atração turística foi traduzida como "Racist Park", o que causou estranheza, afinal, várias das minorias étnicas representadas buscam autonomia ou independência do governo de Pequim.

É o caso dos tibetanos, que fizeram um protesto violento e violentamente reprimido em Lhasa, sua capital, no último mês de março. É o caso também dos muçulmanos da região do Xinjiang, que são apontados pelo regime comunista como potenciais agentes de atos terroristas dentro do país que sedia os Jogos Olímpicos - há um movimento separatista que quer criar o Turcomenistão do Leste.

Aliás, dentro do parque temático, são as duas áreas mais problemáticas. O estande islâmico é o único em reforma, com tapumes e latas de tinta espalhados. Já o tibetano era o único em que os dançarinos não eram da própria etnia - foram escalados garotas e garotas da vizinha província de Qing Hai.

O local é uma versão chinesa do Epcot Center, criado pelo grupo Walt Disney para que os norte-americanos dêem a volta ao mundo sem precisar usar o passaporte - cidades cenográficas representam países da Europa e Ásia.

Já o exemplar pequinês é para mostrar o discurso oficial de preocupação com a preservação dessas culturas, com a matriarcal tradição naxi, na qual as mulheres cuidam das finanças e os homens são cantores, já no grupo yao as mulheres não cortam o cabelo.

No total, há 55 etnias na China, sendo que a maior é a han, com 92% do 1,3 bilhão de habitantes do país. Só na província sulista de Yunnan existem 25 diferentes minorias, com alfabetos, línguas e costumes diversos.

Resultado da política expansionista do período imperial que se manteve durante o regime comunista (na década de 50, eles invadiram o Tibete), a maioria han dominou os vizinhos do oeste desértico, do sudoeste montanhoso e do sul tropical.

O parque de Pequim pode ser lido como a última forma de domínio desses grupos pelo poder centralizado. Afinal, as etnias são pasteurizadas para serem apresentadas ao turista que não pode percorrer o terceiro país em extensão do mundo. Com direito a danças típicas ao som de versões orquestradas das músicas originais. Com direito também a lojinhas para a venda de artesanato. Com direito a cenário de fibra de vidro.

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