UOL Olimpíadas 2008 Quadro de medalhas
 

Meninas encantam, mas falham na final e ficam no quase de novo

Bruno Freitas

Em Pequim (China)

Mesmo melhor em grande parte da decisão contra os Estados Unidos nesta quinta-feira em Pequim, a seleção feminina de futebol não soube traduzir em gols a imensa superioridade técnica na partida e acabou as Olimpíadas com o mesmo desfecho dos Jogos de Atenas há quatro anos, com a medalha de prata no peito, selada pela derrota na prorrogação por 1 a 0. Do ouro, apenas a sensação doída de ter chegado mais uma vez muito perto.

Vice-campeãs dos Jogos de 2004 e do Mundial do ano passado, a seleção de Marta, Cristiane e companhia chegou à China com discurso de que somente o ouro interessava a essa geração, que evoluiu demais nos últimos tempos, mas que ainda não tinha no currículo uma grande glória. Esse sentimento só aumentou durante a boa campanha nas Olimpíadas.

Pela primeira vez a seleção feminina de futebol do país chegou a uma decisão com o favoritismo a seu lado, condição reforçada pela eliminação das bicampeãs mundiais alemãs com uma impressionante goleada por 4 a 1 na semifinal. O aguardado domínio contra as norte-americanas foi visto durante todo o tempo normal. Mas uma afobação no momento de definir impediu que as brasileiras quebrassem de uma vez por todas a sina de ‘geração do quase’.

Trajetória da seleção

Fase de Grupos
0 x 0 Alemanha
Fase de Grupos
2 x 1 Coréia do Norte
Fase de Grupos
3 x 1 Nigéria
Quartas-de-final
2 x 1 Noruega
Semifinal
4 x 1 Alemanha
Final
0 x 1 Estados Unidos
"É lógico que a gente queria ganhar, mas não deu. A gente passou para a final batendo as campeãs do mundo. Então, a prata, sem dúvida, é o ouro para mim"- Simone Jatobá
"Estava na hora de sair com a medalha dourada no peito. Não dava para termos deixado essa chance escapar de novo"- Marta

A turma do técnico Jorge Barcellos não soube ‘matar o jogo’ contra a segura defesa norte-americana, mesmo embalada por vitórias e goleadas na trajetória até a final. O time errou demais no último passe e ficou sem o gol em 120 minutos de batalha no ataque.

Depois da supremacia no tempo normal, o Brasil cansou e acabou vendo uma resposta física dos Estados Unidos na prorrogação. Depois de duas grandes defesas de Bárbara no fim do tempo normal, Carli Lloyd acertou um belo chute no tempo extra e pôs abaixo o sonho de título brasileiro.

Desta forma, o Brasil sai dos Jogos de Pequim ainda sem a inédita medalha de ouro no futebol, já que a equipe masculina fracassou em sua 11ª participação olímpica, em derrota para a Argentina na semifinal.

Mesmo com a prata, fica a menção para uma bela trajetória brasileira nos gramados da China, com campanha de quatro vitórias, um empate e uma derrota.

Mais uma vez a campanha foi liderada por gols e desequilíbrio ofensivo da dupla Marta e Cristiane, melhor do mundo e 3ª colocada do prêmio da Fifa do último ano, respectivamente. A parceria só ficou devendo no instante final das Olimpíadas.

Cristiane teve problemas no início, de ordem técnica e disciplinar, mas decolou após o terceiro jogo e acabou a campanha do ouro sendo tão decisiva quanto à parceria Marta. A jogadora paulista de 23 anos terminou como a artilheira do torneio feminino de futebol, com cinco gols.

Com uma enorme expectativa depositada sobre suas costas, Marta lidou com a pressão com a mesma habilidade que encara as marcadoras adversárias. A meia-atacante do sueco Umea anotou três gols na campanha e foi a regente do time desde o princípio. No entanto, deixa a competição ainda com a marca de contestação de ser uma vencedora somente em âmbito individual, graças aos prêmios dos últimos anos.

Mas nem só de Marta e Cristiane viveu o time de Jorge Barcellos na China. Uma porção de coadjuvantes deu colaboração fundamental para a conquista da prata. A começar pela jovem goleira Bárbara, que ganhou a posição de Andréia no terceiro jogo e se firmou com muita segurança, a despeito da pouca experiência pela equipe principal. Na final, fez defesas fundamentais e só não segurou a ‘bomba’ de Lloyd.

Destaque também para a veterana Tânia Maranhão, que herdou a braçadeira de capitã de Aline, que não pôde vir aos Jogos de Pequim em razão de uma lesão. Presente na seleção desde o início dos anos 90, a zagueira desempenhou a função de liderança, gritando quando necessário, e ainda foi a comandante do sistema defensivo.

No meio-campo, menção para Daniela Alves, autora de dois gols na trajetória das campeãs. Com trabalho de repercussão quase invisível, a volante topou fazer o “jogo bruto” do setor, em sacrifício pessoal de marcação e entrega física em prol do grupo, mais especificamente para conferir liberdade de atuação para as ‘virtuosas’ Marta e Cristiane.

Isso sem contar a legião de batalhadoras do time, como Simone, Renata Costa, Formiga, Maycon, entre outras, inclusive as reservas.

Publicado no dia 21 de agosto de 2008

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