Washington Silva

"Eu saí sem medalha, mas honrei um trabalho de quatro anos. O esporte é fruto de vitórias e derrotas", disse, após ser eliminado

Washington Silva foi o primeiro boxeador brasileiro a se classificar para os Jogos Olímpicos de Pequim e, chegando à China, não decepcionou. Apesar de lutar no sacrifício, com o ligamento cruzado do joelho direito rompido, o paulista de Diadema teve um bom desempenho e quase beliscou uma medalha, o que encerraria um jejum brasileiro de 40 anos.

Se em Atenas o Brasil teve apenas uma vitória, Pequim marcou uma melhora considerável para a realidade brasileira. Isso foi exemplificado por Washington. Ele venceu na primeira fase o haitiano Azea Augustama, por 6 a 2. Mesmo lesionado, teve segurança e seguiu assim até as oitavas-de-final, quando triunfou novamente, desta vez contra Bastie Samir, de Gana: 9 a 7.

A apenas um triunfo de garantir ao menos o bronze, Washington não teve o mesmo sucesso ao enfrentar Kenny Egan. O irlandês mostrou superioridade e nem deixou o brasileiro pontuar, vencendo por 8 a 0. Decepção? Nem um pouco. "Eu saí sem medalha, mas honrei um trabalho de quatro anos", disse, após sair do ringue. "Em momento algum eu senti dor mesmo no joelho. Senti dificuldade por causa da contusão e do estilo do atleta que eu peguei. Ele explorou meu pronto fraco", completou.

Veterano do Pan-Americano de 2003 e das Olimpíadas de 2004, o pugilista conseguiu a vaga para os Jogos depois de uma campanha decepcionante nos Jogos do Rio, em 2007.Eliminado na primeira rodada, foi um dos três atletas que não conseguiu medalha no Pan, dos onze da seleção. A má fase seguiu no Mundial de Chicago, no final do ano, mais uma vez derrotado na primeira rodada. A vaga só veio no Pré-Olímpico de Trinidad e Tobago, em março de 2008. Foi o único brasileiro classificado até então.

O boxeador tem uma história inusitada na seleção. Nasceu em Diadema, na grande São Paulo, mas deixou a cidade com dois anos, para viver em Cruz das Almas. Em 1997, voltou para a capital paulista, procurando emprego.

Encontrou no Corinthians. Foi segurança e até gandula. Ao mesmo tempo, começou a praticar boxe. Em 2001, quando já estava na seleção, o clube virou seu patrocinador, mantendo o salário de segurança mesmo com Washington longe, treinando. A aposta deu resultado, com as classificações para o Pan de 2003 e as Olimpíadas de 2004.

Há quatro anos, a banda Marcha Lenta, de Cruz das Almas, fez uma homenagem ao lutador. A música "Orgulho de ser campeão" dizia: "Chegou a hora que o baiano vai lutar/Aqui em Atenas é o Brasil que vai brilhar". Em 2007, a canção foi "Em busca de uma medalha", composta pelos amigos Fabrício Salomão, Coronel e Márcio Arruda. "Pan, Pan, no Brasil inteiro agora todo mundo só quer ver o Pan" é um trecho do hit cantado em ritmo de forró pela banda Sarapatel com Pimenta.